documentos de pensamiento radical

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sábado, 3 de julio de 2021

PROIBIDO > OBRIGATÓRIO > MÁSCARA




PROIBIDO

 

é proibido sentar nesta cadeira

é proibido entrar sem máscara

é proibido permanecer sem máscara

é proibido estar a menos de 2m de outrem

(mesmo que mascarado)

é proibido circular aos fins de semana

é proibido sair de casa a partir das tantas

(já não sei às quantas…)

é proibido ajuntamento superior a cinco mamíferos

(mesmo que mascarados)

 

e depois a versão OBRIGATÓRIO

 

é obrigatório o uso de máscara

é obrigatório desinfectar as mãos

é obrigatório lavar as mãos

é obrigatório usar luvas

é obrigatório distanciamento social

é obrigatório permanecer em casa

é obrigatório informar as autoridades

(se tem sintomas desmascarados)

 

é proibido

é obrigatório

 

acautelem-se os monoteístas

preparem novo altar os teístas

riam-se os ateístas

regozijem-se os anti-teístas

com este omnipresente e omnipotente ser

 

que notável serviço presta ao autoritarismo

o novo habitante do espectacular zoo

do corpo humano

 

MÁSCARA

 

usemos máscara

entremos com máscara

permaneçamos com máscara

circulemos com máscara

comamos com máscara

bebamos com máscara

fumemos com máscara

banhemo-nos com máscara

dormamos com máscara

dancemos com máscara

cantemos com máscara

forniquemos…

 

que deboche!

 

adormeci

MÁSCARA

li

e dormi, dormi, dormi

pela manhã

MÁSCARA

ouvi

mas não respondi, respondi, respondi

 

antes elucubrei

e continuei

a pensar, a pensar, a pensar

e resolvi a questão

do uso da máscara

também na hora da refeição:

fiz-lhe um rasgo para aceder à boca

 

e neste repensar no que me refodia

encontrei-lhe ainda uma outra utilidade:

vendei com ela os olhos para a sesta

 

já sei

agora quando sair de casa

levarei "passa-montanhas"

que sempre pensarão ser forrado

com cetim em forma de máscara

 

e poderei entrar no banco estatal

e no hemiciclo bentinho

e talvez mesmo no presépio de belém

porque uso e sou máscara

 

e que farei ao fruto

dessas tão notáveis

expropriações?

 

já sei, já sei, já sei:

distribuo o velho-banco

pelos novos-bancos

e os bentinhos arremato-os

nas feiras de raridades

 

passarei a ser a máscara

a máscara que venceu a barba

que me mascarava

mas como a barba ficou da cor da neve

e a Natureza sabe que não gosto de frio

permite-me agora que a máscara

amenize o meu inverno

com as cores que entender

 

viva a máscara libertadora!

 

destes lábios mascarados

recebei graças solsticiais

e beijos descarados

senão mesmo envenenados

por este tempo

que levou o vento

não permitido > não-autorizado > não consentido

do “INTERDIT D’INTERDIRE”

 

14.XII.2020

(acompanhando uma familiar anciã a um hospital)

 

Carlos d’Abreu. CAMINHOS DE SIRGA. para resgate de poeta bissexto. CARABA IBÉRICA. 2021

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