A Alexandre O’Neill e a Ana Cristina Leonardo
Os domingos de Lisboa são terríveis de passar – e tu que o digas!
Mas não está tudo como de antes. Mentira!
Coisas há que estão piores. O resto são cantigas.
A menina que passa moda é tolinha, mas, vá lá, é gira.
Cá andamos, armados em europeus de sobrepeliz coçada
(não todos -- os Homens de Estado vão ao cobre do erário;
e que o pague o marçano, o pobre que trabalha, essa cambada,
o suburbano, o empregadito, o liberal, o funcionário).
E pedem que cantemos o peito ilustre lusitano? Não.
Peitinho de menina, sim, ou peitinho de franga.
Por favor Madame tire as patas, as patas do seu cão,
da mesa. A gerência agradece. E viva a canga.
Ministros, depois banqueiros, administradores, Filhos da Pátria.
Pátria podre, putre, pútria, cheirando a sovaco à beira rio,
a escovar-se a piaçaba destes Filhos da Pútria Pátria
Filhos da Pátria, da Pátria Pútria, da Ganda Pútria que os pariu.
País de lambe-cus, de oficiosos, de beleguins e jornalistas a pataco
Cerviz ao chão , ó vocação antiga dos mansos pela trela,
abanam rabos , dão a patinha, por coleira, ração, gravata, belo casaco
última moda em loja fina da nação -- e só para quem come dela.
Contribuintes, alguns; nunca os que mamam. A teta vai gasta
de tal derriço. Sacam bolsa e vida este ladrões – e sem aviso.
Mas uma senhora é uma senhora. Só vê malícia quem a tem. E basta.
Uma senhora passa e ladrar é o seu dever – se tanto for preciso.
A inspecção irónica dos bolsos, eis o que nos sabem oferecer
os demorados fiscais à procura de uma fresta.
Que tempo este, meu deus! Uma senhora , sem o saber,
está sempre em perigo e à mercê dessa Grã-Besta.
Isto é um país de esgoto. E que pena, Alexandre. Parecia coisa fina.
A vilanagem come tudo!. Amanhã talvez, mas hoje já não se fia.
Ó povo acocorado! O que nos vale a nós, Ana Cristina,
É que ainda e sempre por aí há quem medite na pastelaria.
Março de 2012
Fernando Cabrita. Quarenta poemas. Catita & Compania. 2012
No hay comentarios:
Publicar un comentario