Cantaria, assim pudesse, todo um poema novo –
um poema
de heróis limpos e sedutores
de heróis que falassem ininterruptamente a
novilíngua
onde tudo é igual a tudo menos à realidade.
Poema sem
fanáticos cortando gargantas,
sem deuses incitando ao ódio e à destruição,
sem Anjo Gabriel a traficar missais e heroína.
Oh, sim, cantá-lo-ia!
Um poema acautelado e tíbio onde não morassem
panfletos e seringas, borboletas afiadas,
turbantes e ódio, anjos degoladores,
querubins de pelo curto e Doc Martens nos pés,
profetas e patriarcas comerciando-se aos milhões,
corrupções, euros, largos baluartes do vício e
do crime no
Parlamento de Onde-Seja, dólares, yens,
acções escondidas, bancas falidas,
vetustos ignóbeis padres chamuscados
de ventos de súlfur, religiões de ódio e dor,
pedófilos e crentes, emires e devotos
carrascos,
penitentes caridosos e ruins, matadores de
honras e vidas,
assassinos de louvar a deus, patriarcas de
bordões armani e inconsútil barba,
santos rudes a desabitar improváveis
morabitos,
lumbersexuais proféticos exalçando vozes aos céus
de Coisa Nenhuma,
adoradores da morte dos demais, homicidas a
galope,
ermitões de ver a deus nas páginas da Vogue,
jhiadistas a posar para os canais da moda,
monges obscuros de sangue na lapela,
límpidos varões a canforar impoluídos ares,
multidões sob as pontes de Londres numa
Terra sempre Sem Vida, gasta,
estéril, onde já nem Phlebas, o fenício, dará
à costa.
Poema onde não morasse nada, nada que
chocasse,
onde morasse apenas o exactamente consentido.
O Tempo
Novo é o tempo velho, todos os tempos.
Pudesse eu e cantá-lo-ia, num poema novo,
revigorado, oficial,
onde bailassem polkas e mártires decadentes.
Cantá-lo-ia, sim!
Virgens insensatas parindo,
no entanto parindo, entre sístoles e
geografias.
Cantá-lo-ia, entre os vãos de todas as
janelas, atrás ou
à frente das vidraças por abrir.
Todo um poema novo de construção
pseudo-destrutiva,
ao gosto de época, bem ao gosto da época,
cheio de palavras correctas e de nenhuma
proibida,
toda a batota verbal onde se dissesse o que os
demais queiram ouvir,
bem ao sabor dos pequenos vendavais do
espírito mais comezinho,
um poema de mãos largas sempre a declarar-se
anticonvencional,
moderno, giro, mais que moderno: modernaço,
poema de ideias soltas, a inaugurar estilo,
poema de ideias excrementícias
-- ainda que um poema se faça não tanto de
ideias mas de palavras –
e de palavras que pareçam ferozes, mas não
mordam,
de palavras que se afirmem lavradas no enxofre
da língua,
na cinzenta crueza dos purgatórios mortos,
no execrável labirinto de cavernas infinitas;
mas afinal palavras esmeradas,
paridas em laboratórios mansos
onde a criação seja afável e o ministro
consinta
e a igreja permita e a economia não vede.
Cantá-lo-ia, pois, como um arauto dos tempos
novos
mas semelhando contracorrente, contradição,
contrassenso,
contravenção, contracultura
porém afinal apenas contrafacção, tu bem o
sabes,
mas esperando, claro, a contrapartida,
um poema onde o Lobo de Rimini jamais
sodomizasse o
pequeno bispo Fano, núncio papal em tempos
conturbados,
um poema asséptico, sem gulags, sem campos de
concentração,
sem muros e sem bombardas,
poema onde os rios corressem limpos como os de
Rodrigues Lobo,
as saudades fossem ainda as de Bernardim
e os ares fossem para sempre respiráveis;
e onde eu me proclamaria dizendo sonoramente
“as minhas
palavras são esculpidas pelo cinzel da pútrida
exclamação,
da pútrida arquitectura”,
-- mas não, meu amor, tu sabes que não seriam!
--
e
anunciaria falsamente, na soberba
língua dos tolos agora espertos
“eis os meus versos, edifícios de escândalo!,
eis o meu poema, navio condenado!
eis a
minha Palavra, oficina de vícios e desdéns!
eis o meu trote agreste na garganta maldita
dos serafins caídos!”;
mas tudo soaria depois a oco, bem sabes,
tudo a ninho de palavras estupefacientes.
Cantá-lo-ia, se tudo quanto se me agita afinal
na alma não fossem
palavras indecifráveis na boca queimada de
deus,
na desdentada boca de deus,
palavras fuziladas uma a uma sobre a decência
das coisas,
palavras de Ítacas ardidas, versos que fossem
um Moloch perna de pau,
uma tabuada de súcubos e donzelas podres,
de mendigos, dos teus mendigos, Álvaro!,
mijando sobre os nossos
destinos e propósitos,
labareda acesa, petróleo frio sobre as
dimensões do tempo,
rocha vitrificada, marca de água de querubins
e quimeras que
andassem no lixo a buscar o que comer.
Ah, pudera eu! Pudera eu e cantá-lo-ia!
Cantá-lo-ia, a esse poema novo em que não
houvesse chão duro mas somente
nuvens diluídas nas vastidões do céu;
em que não assomassem mendigos,
andrajos, pobres, casebres, misérias
desocultas,
e onde tudo fosse um raio benigno de sol e um
louvor mesmo que mascarado.
Pudesse! e seria eu um poeta maldito, o Poeta
Maldito,
o aparentemente Intolerado, o Irreverente,
porém acarinhado pelos poderes, abençoado por
todas as santidades,
louvado por todos os gabinetes.
Pudesse! e comporia esse poema novo sem burlas
incomensuráveis, sem escroques de
pátria na lapela, sem biltres de cargo e
caldeira.
Nele não haveria cheiros a João Huss queimado,
nenhum grito de Steve Biko espancado,
nenhuma agonia de curdos, nenhum Khashoggi
esquartejado,
nenhum banco assaltado a partir de dentro,
nenhuma mulher violada nas prisões de
Pinochet,
nenhum poeta decapitado nos ergástulos
sauditas,
nenhuma masmorra com água, nenhum crime de
guerra,
nenhum morto indefeso nas ruas de Myanmar,
nenhuma bomba sobre o Iémen,
nenhum velho solitário numa água furtada
esconsa,
nenhuma venda de armas democráticas, nenhuma
líbia ardida,
nenhuma biblioteca em chamas, nenhum voto
vigarizado,
nenhum afilhado a expensas do erário.
Seria um poema submisso ainda que protestasse
insubmissão,
um
poema delicado ainda que aparentasse revoluções,
batendo três vezes no peito o nome da revolta
para
outras tantas a negar ao bater de cada letra
do teclado mole.
Seria um poema onde nenhum Perseu degolaria a
Medusa,
nunca se saberia Palmira a velha derrubada e
Khaled al-Asaad decapitado por amor a ela.
Nele Maldoror não encontraria Lautréamont que
o cantasse,
ao Decepado não lhe cortariam as mãos
nem Judas beijaria Cristo ao cantar das luas
na cidade.
Ninguém ali se levantaria, como tu dizes,
Uberto,
contra los versos exquisitos y subalternos,
acorrentados às escavadoras
para travar a destruição da sua terra e da sua
consciência,
e todos seríamos convidados para os palácios
de Doñana.
Ah, cantá-lo-ia! Um poema
que fosse um longo e largo silêncio, pese
embora feito de muitas palavras,
uma ode morta, um rol de alexandrinos secos,
flores do bem a vomitarem baudelaires.
Uma canção aplaudida por analfabetos
funcionais,
levada às televisões nos horários nobres,
condecorada oficialmente com pendões e ordens
protocolares,
gratificada com espórtula, amaciada com os melhores
cosméticos,
perfume e rosa e sons pré-gravados de
primaveras e ribeiros,
só coisas doces e suaves, amores diáfanos e
perfeitos
rosas desfolhadas a criar ambiente e luz.
E nenhuma aflição,
nenhum bêbedo feliz que fale só, meu bom
Cesário,
e nenhum que ensine a filha a ler à luz da
candeia.
Mas o que sei e sinto não caberia afinal no
poema.
O que sei e sinto são adagas, mistérios,
peões mortos nas trincheiras em todas as
flandres
que houver pudessem, grumetes dependurados nas
gáveas,
pássaros equivocados, gente que se deita com
fome,
avós abandonados, secretários rascas,
acanalhados profetas,
ladrões de estola e carmim, banqueiros que
esvoaçam em bando
ao cheiro fresco do sangue da manada.
O que sei são gente esquecida nas esquinas da
vida,
soçobrada nas pautas das economias, afogada no
vazio das estatísticas.
Viro a página da alma e as gravuras reproduzem
ilhas
onde a miséria ainda irrompe, bairros de
degredo e impureza,
droga urgente, clandestina, cáustica –
e perniciosos mandarins na luz majestosa dos
bonzos,
régulos manajeiros das grandes Comissões,
patetas monumentais a dirigir a orquestra do
mundo,
tolos duvidosos debruçados na janela alta da
Terra,
Camões a pedir a tença triste.
Nenhum rio corre sem barragens que o tolham
e todas se vendem
e todas se compram
e todas se pagam pelos incautos
uma e outra e outra vez.
Isto é o que sei e sinto.
E lamento, lamento,
mas outra coisa não sei.
Sei que o tempo passa, que a vida foge, que o
amor é incerto,
que a poesia existe onde menos se a espera.
E lamento, lamento: como falar do que não sei?
Como fazê-lo?
Soubesse e cantá-lo-ia!
Pudesse eu! E cantá-lo-ia!
LA BALADA IMPOSIBLE
Cantaría, sí podría,
un poema completamente nuevo – un poema
de héroes limpios y seductores
de héroes que hablasen ininterrumpidamente la
novilengua
donde todo es igual a todo
pero no a la realidad.
Poema
sin fanáticos degollando,
sin dioses que incitan al odio y a la
destrucción,
sin Ángel Gabriel a traficar misales y
heroína.
¡Oh, sí, lo cantaría!
Un poema cuidadoso y tibio
donde no estuviesen
panfletos y jeringuillas, mariposas afiladas,
turbantes
y odio,
angéles cortadores de collos,
querubines de pelo corto y Doc Martens en los
pies,
profetas y patriarcas que se comercian con
millones,
corrupciones, euros,
baluartes anchos de vicio y crimen en
el Parlamento de Donde-sea,
dólares, yenes,
pagarés
ocultos, bancas insolventes,
vetustos ominosos curas chamuscados
de vientos de súlfur,
religiones de odio y dolor
pedófilos y creyentes,
emires y verdugos devotos,
penitentes caritativos y malos
asesinos de honores y de vidas,
matadores de alabanza a dios,
patriarcas de fuste armani y barba
inconsútil,
santos groseros que abandonan morabitos
inverosímiles,
lumbersexuales proféticos alzando voces a
los cielos de la Nada,
adoradores de la muerte de los otros,
galope de homicidas,
ermitaño para ver a dios en las páginas de
Vogue,
jhiadistas para posar para los canales de la
moda,
monjes sombríos de sangre en la solapa,
hombres muy limpios a poner alcanfor en los
aires impolutos,
multitudes bajo los puentes de Londres
en una Tierra siempre Baldia, desgastada
y estéril, donde ni Flebas, el fenicio,
llegaria a la costa.
Poema donde no viviese nada, nada impactase,
donde viviese solamente
el exactamente
consentido.
El Nuevo Tiempo es el viejo tiempo, es todo
el tiempo.
Si pudiera lo cantaría,
en un poema nuevo, revitalizado y oficial,
donde bailarían polcas y mártires
decadentes
¡Si, lo cantaría!
Vírgenes tontas pariendo,
sin embargo, pariendo, entre sístoles y
geografías.
Lo cantaría entre los vanos de cada ventana,
detrás o
delante de los cristales sin abrir.
Todo un nuevo poema de construcción
pseudo-destructiva
al gusto del tiempo, bien al gusto del tiempo
lleno de palabras correctas y ninguna que sea
prohibida,
todo la trampa verbal donde se diga lo que el
otro
quiere oír,
bien al gusto de las pequeñas tormentas del espíritu más simplón,
un poema de manos anchas
siempre declarándose anticonvencional,
moderno, guay, más que moderno: modernón,
poema de ideas sueltas, para inaugurar un
estilo,
poema de ideas excrementales
--aunque un poema no esté hecho tanto
de ideas sino de palabras-
y de palabras que puedan parecer feroces,
pero no muerden,
de palabras que pretenden ser aradas en el
azufre de la lengua,
en la crudeza gris de los purgatorios
muertos,
en el execrable laberinto de infinitas
cuevas;
pero al fin y al cabo, palabras educaditas,
dadas a luz en laboratorios mansos
donde la creación sea afable y el ministro
consienta
y la iglesia lo permita
e y la economía no lo prohíba .
Yo lo cantaría, por tanto, como un heraldo de
los nuevos tiempos
pero aparentando contracorriente,
contradicción, contrasentido,
contravención, contracultura
pero al fin solo falsificación, tú lo sabes..
pero esperando, por supuesto, a la
contrapartida,
un poema donde el Lobo de Rímini nunca
sodomizaría
al pequeño Obispo Fano,
nuncio papal en tiempos convulsionados,
un poema aséptico, sin gulags,
sin campos de concentración,
sin muros y sin bombardas,
un poema donde los ríos corriesen
limpios
como los de Rodrigues Lobo,
los anhelos fusen todavía los de Bernardim
y los aires para siempre respirables;
y donde yo me proclamaría
diciendo sonoramente "mis
palabras están talladas por el cincel de la
exclamación pútrida,
de la pútrida arquitectura ",
-- pero no, mi amor, ¡sabes que no lo serían!
–
y yo anunciaría falsamente, en el soberbio
lenguaje de los tontos ahora inteligentes
"¡he aquí mis versos, edificios de
escándalo!,
¡aquí está mi poema, barco condenado!
esta es mi Palabra, taller de vicios y
desprecios!
he aquí mi trote salvaje en la garganta
maldita de los serafines caídos!"
pero todo sonaría como el hueco, ya lo sabes,
todo como a un nido de palabras narcóticas.
Yo lo cantaría, si todo
lo que se agita en mi alma no fueran
palabras indescifrables en la boca quemada de
dios,
en la boca desdentada de dios,
palabras fusiladas una a una sobre la
decencia de las cosas,
palabras de Ítacas quemadas,
versos que fuesen un Moloch pierna de palo
una aritmética de succubus y doncellas podridas,
de mendigos, de tus mendigos , ¡Álvaro!,
meando sobre nuestros
destinos y propósitos,
llama encendida, aceite frío sobre las
dimensiones del tiempo,
roca vidriada,
marca de agua de querubines y quimeras que
buscasen en la basura algo qué comer.
¡Oh, se yo lo pudiera! ¡se pudiera lo
cantaría!
Yo lo cantaría, a ese nuevo poema en el que
no
hubiese tierra dura sino solamente
nubes diluidas en la inmensidad del cielo;
en el que no viniesen a mirar mendigos,
harapos, pobres, chozas,
miserias
no ocultas,
y donde todo era un benigno rayo de sol y
un elogio aunque enmascarado.
Si lo pudiera¡ y yo sería un poeta maldito,
el
Poeta Maldito,
el aparentemente no tolerado,
el
Irreverente,
pero, bien, muy acariñado por los poderes,
bendecido por todas las santidades,
alabado por todos los despachos.
¡Se lo pudiera! y escribiría este nuevo poema
sin estafas inconmensurables, sin cortabolsas
que
van con la patria en la solapa, sin
malhechores de posición y lábaro.
En el no habría olores de John Huss quemado,
ningún grito de Steve Biko golpeado,
ninguna agonía de los kurdos,
ningún Khashoggi descuartizado,
ningún banco robado desde dentro,
ninguna mujer violada en los cárceles de
Pinochet,
ningún
poeta decapitado en los ergástulos saudíes,
ninguna mazmorra con agua, ningún crimen de
guerra,
ningún muerto indefenso en las calles de
Myanmar
ninguna bomba largada sobre Yemen,
ningún anciano solitario en una buhardilla
olvidada,
ninguna venta de armas democráticas,
ninguna Libia en llamas,
ninguna biblioteca ardiendo,
ningún voto burlado,
ningún arrimado a expensas del baúl público.
Sería un poema sumiso aunque protestara
insumisión,
un poema delicado a pesar de que parecía
revoluciones,
golpeando tres veces en el pecho el nombre de
la revuelta
y otras tantas veces la negara al golpear
cada letra del teclado suave.
Sería un poema donde ningún Perseu
decapitaría a Medusa,
donde nunca se conocería Palmira la Vieja
arrasada
y Khaled al-Asaad decapitado por amor a ella.
En él Maldoror no encontraría un Lautréamont
para cantarlo,
a el
Mutilado no le cortaban las manos
ni Judas besaba a Cristo al cantar de las
lunas por la ciudad.
Nadie allí se levantaría, como dices, Uberto,
contra los
versos exquisitos y subalternos,
encadenados a las excavadoras
para detener la destrucción de su tierra y su
conciencia,
y todos estaríamos invitados a los palacios
de Doñana.
¡Oh, lo cantaría! Un poema
que fuese un silencio largo y amplio, aunque
hecho de muchas palabras,
una oda muerta
una lista de alejandrinas secas,
flores del bien vomitando baudelaires.
Una canción aplaudida por analfabetos
funcionales,
llevada a la televisión en horario de máxima
audición ,
galardonada oficialmente con pendones
y órdenes protocolares,
gratificada con pagos públicos,
suavizada con los mejores cosméticos,
perfume y rosas y
sonidos pregrabados de primaveras y arroyos,
solo cosas dulces y suaves,
amores translucidos perfectos
rosas defoliadas s para crear contexto y luz.
Y sin cualquiera aflicción,
sin el borracho feliz que hable a solo, mi
bueno Cesário,
y ningún que enseñe a la hija a leer a la luz
del petróleo.
Pero lo que sé y siento no encajaría jamás en
el poema.
Lo que sé y siento son puñales, misterios,
peones muertos en las trincheras en cada
flandres
que podrían existir,
grumetes colgados de los mástiles,
pájaros equivocados,
gente que va al lecho hambrienta,
abuelos abandonados,
secretarios bellacos, profetas atracadores,
ladrones de treciopelos y carmínes,
banqueros que revolotean en bandadas
al olor fresco de la sangre de la manada.
Lo que sé son personas olvidadas en los
rincones de la vida,
derribadas en las agendas de las economías,
ahogadas en el vacío de las estadísticas.
Paso la página del alma y los grabados
reproducen islas
donde aún estalla la miseria,
barrios de degredo e impureza,
droga urgente, clandestina, cáustica –
y mandarines perniciosos en la majestuosa luz
de los bonzos,
régulos capataces de las grandes Comisiones,
títeres monumentales para dirigir la orquesta
del mundo,
tontos dudosos apoyados en la ventana alta de
la Tierra,
Camões pidiendo la triste limosna.
Ningún río corre sin presas que le
atropellen
y todas se venden y todas se compran
y todos las acaban pagando los incautos
una y otra vez.
Esto es lo que sé y percibo.
Y lo siento, lo siento,
pero no sé nada más.
Sé que el tiempo pasa, que la vida se escapa,
que el amor es incierto,
que la poesía existe donde menos se lo
espera.
Y lo siento, lo siento, ¿cómo hablaría de lo
que no sé?
¿Cómo hacerlo?
¡si lo supiese lo cantaría!
¡Si lo pudiera, ah, lo cantaría!
FERNANDO CABRITA 2021
En: Letras en la Raya. A.C. El Libro Feroz. Aracena, 2023
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