Assomei-me à porta da noite
para ver do tempo a janela
como sugeria o teu holograma
que avistei para os lados de castela
chuva não pressentia
apenas no céu tremulante
candentes estrelas via
procurei então a lua
para a questionar
mas ocultou-se ela
do meu taciturno olhar
o que vi foi um espectro
bilifulvinoso que ficou
sobre as horas a pairar
*
Não
te equivoques
quando
el@s dizem
gostar
dos teus versos
porque
o poema não és tu
*
os
versos com que me alimentaste
continuo
a senti-los todos meus
os
odores com que me impregnaste
continuo
a consenti-los sobre mim
e
os frêmitos todos que me provocaste
desbordam
agora duma alma desmesurada
que
voluntariamente me prende
a
um único poema:
MORENA
Que tens certa
pena
Que as mais
raparigas
Te chamem
morena.”
Guerra
Junqueiro, “Morena”, in A Musa em Férias
*
Páro-te:
escuto e olho
vejo para te
olhar
e ouço para te
escutar
olho e escuto
quando és tu
porque sempre hás
em tudo
o que vejo e ouço
vejo a vida
viva
colorindo-se
ao ouvir
os sons dos teus
passos
olho os teus
olhos
por neles escutar
a pureza do teu
olhar
com prazer a
vista olha
para o que vê
quando é teu
o rosto que passa
com gosto a
audição
apuro a escutar
o que afinal
sempre ouço
cada vez que no
poema
há canto de ti
é aí
onde até a suave
brisa da tarde
enxergo
e a alegre luz
do teu olhar
meus ouvidos
captam
e registam
por antever
na voz carinho
e sempre haver
no rosto afecto
“Por isso a escuta é a espera vazia
aberta ao tempo e à possibilidade
de uma palavra livre mas fiel à
simplicidade nova de um começo.”
António Ramos Rosa, “A relação do ser e
do horizonte é circular”, in Uma prenda para Eugénio com algumas túlipas
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