Viram-te os povos
em ansiedade e espera,
quiseram-te os
bons,
os humildes,
os que tem buscam
incessantemente,
os que te amam para
além das coisas que é possível dizer,
os que marcham em
escuridão e medo,
os nus,
todos os hilotas da
terra,
os que jazem
derrubados à escravidão e à pena.
Procuraram-te todos
os dias, a cada hora,
em cada oceano,
em cada outeiro
longínquo,
todas as criaturas
que há no mundo,
e todas as
criaturas que albergam os céus e os mares,
os bichos da
floresta,
os bondosos
animais,
as aves de cada
nuvem e de cada árvore,
os cativos,
os enjaulados,
os prestes a serem
sacrificados a deuses e vontades
que não
compreendiam,
os que apenas
buscavam o amor e a afeição
e tiveram pelo
contrário a dor e a tortura,
os peixes todos do
mar, neptunos sem divindade,
e todos os homens
em cada palavra dita
e em cada palavra
por dizer,
e foste sempre a
maior e a mais vasta das religiões,
sempre deusa,
sempre interminável
deusa,
sempre a mais casta
das castas,
a que víamos florir
a cada hora mágica
entre serpentes e
cardos,
nascendo da terra
dura
e dos destinos
vazios,
a cheia de graça.
E sempre fomos teus
crentes, teus ferverosos crentes,
teus adoradores e
peregrinos,
caminhando sempre
junto a ti
em cada morada tua,
em cada tua canção,
dando som às coplas
em que se resguarda o teu nome,
e murmurando os
cânticos em que se exalça o teu nome,
e ouvindo como que
absortos a delicadeza de teu nome,
e sentido o frescor
que a cada verão dava o teu nome,
e chamando o teu
nome como uma oração à deusa,
floresta e pão e
trigo morno,
cereja, café e
memória da casa antiga,
manhã de horchatas
e ongevo
silêncio e paz e
coração de ventos,
torre alta entre
penhascos e brisas,
tarde amiga
abrindo-se em lírios e corais.
O teu nome,
sempre o teu nome e
para sempre.
E pelo teu nome
vamos e nele vamos,
deuses menores
alados para te buscar,
anjos eleitos para
te seguir,
vendo e ouvindo
quanto haja a saber
e tendo por olhos
as tuas águas iniciais
e por ouvidos a
lembrança da tua história antiga.
**
Cantaste com Verdi
no coro dos escravos,
e tiveste a tua voz
na voz de cada um,
e foste sangue e
sonho e fímbria de um mundo novo,
e estiveste em cada
Quilombo dos Palmares a quebrar grilhetas,
em cada Cabana de
cada Pai Tomás,
em cada cubata
incendiada a apagar as labaredas,
e tiveste Sherwood
por morada,
e Wadi Rum por
caminho,
e amamentaste a
esperança e a espera de cada servo do arado
e de cada escravo
da gleba,
de cada moribundo
que te balbuciou no derradeiro instante,
de cada herói
incógnito que te bradou
em cada incógnita
batalha,
nos altos fornos,
nos campos de
milho,
nas florestas
fechadas,
nos arrozais,
nos outeiros
distantes,
no galope das
pampas,
em cada Wiryamu,
em cada degrau das
escadarias de Odessa,
em cada trincheira
em que se desfraldavam
o teu gesto e a tua
voz antiga,
essa tua tão antiga
voz.
**
Quando nos sentámos
derredor do primeiro fogo,
símios,
primevos,
hominídeos,
criaturas de pasmo
e encanto,
mal descidos da
árvore,
e não sabíamos
sequer como te nomear,
oferecias-te-nos
toda inteira,
e o teu corpo e
feição e nome eram a terra toda,
e tínhamos para nós
todos os futuros junto a ti
pois nenhum futuro
se cumprira ainda,
e nem havia
passado,
e tudo era só o dia
de então a cada dia,
e tu estavas,
sempre
e sempre,
no fogo,
na livre respiração
dos ventos,
nos haustos largos
da terra,
e sentíamos-te em
cada convulsão dos montes,
em cada vulcão que
agitava as entranhas do mundo,
em cada dessas
planícies infindas que desaguavam junto aos céus,
nos horizontes
vastos que lindavam os confins perdidos.
Seguíamos-te sem te
procurar, pois que te tínhamos,
e sem te guardar
avaramente, pois que te davas,
permanente,
generosa,
maternal,
juvenil e festiva
como as auroras,
pássaro que pousava
em todo o céu,
mãe comum,
perpétua,
amorável e boa,
a demonstrares-te
em cada galope de corça,
a cada passo das
manadas,
nas correrias das
alcateias,
no rugido bravio do
jaguar,
no lume aberto dos
dias
quando era tudo
peregrino e novo
e nossas vidas o
mistério de todos os sentidos,
e as nossas horas
um largo momento sem horas,
e a nossa
fraternidade um lago em que vogavam barcos por sonhar,
e a tua presença a
mão e o regaço
em que dormíamos à
noite
derredor do
primeiro fogo.
**
É preciso que de
novo, como Éluard, alguém te cante e te diga,
que sejas inscrita
em cada parede e em cada muro,
em cada muralha que
nos separa e pune.
É preciso de novo,
porque é sempre
preciso,
e nunca é tarde,
e nunca é cedo,
e toda a hora é a
hora,
porque a todo o
instante palpitas em cada pedra
de cada casa,
de cada aldeia, de
cada cidade,
de cada mundo
conhecido
e de cada mundo
ainda por inventar.
É preciso que te
invoquem os tristes e os desditosos,
os que te têm por
única fortuna,
os que se sentem
perdidos se te perdem,
os que cavaram
trincheiras para te erguer,
como um lume aceso,
em cada alma e em cada porta,
os que te
acompanharam em todas as jornadas
por cada das sete
direcções do infinito.
É preciso de novo
inventar todos os amores com carácter de urgência
para que nenhuma
pátria seja lugar de exílio,
nenhum lugar seja
lugar de medo,
nenhum coval seja o
latifúndio fúnebre de pobres severinos,
nenhum patíbulo se
erga para molestar os teus filhos.
É preciso cantar-te
como Filipe em cada ano perdido de 1962,
livre de ir onde
quisesse
e no entanto
prisioneiro na sua própria cidade.
É preciso que o
manso cão que festejas ladre feliz
por te ter e te
sentir,
que cada besta de
cada selva,
de cada bosque,
de cada latitude
partilhe o teu
espírito aberto nas savanas,
o teu corpo de mel
e sono doce,
que sempre paires
como um alce ou um Olimpo
sobre as nossas
desabaladas criaturas,
fogo aceso,
visão de anjos
ternos,
orquídea de vaga
sensação,
luz de Outubro,
sussurro de
florestas antigas,
fantasia de
passados dias,
unicórnio,
quimera,
esfinge,
fénix,
sereia,
circe,
ronin perdido,
jade,
opala seca,
diamante líquido,
fada,
fauno,
ongev altivo,
Orfeu sem lira,
tudo sempre em ti e
em cada um de nós.
É preciso que te
novo te ergam os que sofrem
em cada Goulag,
em cada prisão,
em cada vala morta,
em cada câmara,
em cada subterrâneo
desnecessário,
em cada cárcere
ignóbil,
os filhos e os
netos dos sobreviventes e dos mortos,
as vítimas de todos
os deuses,
as presas de todas
as inquisições,
os fuzilados em
todas as paredes de todas as ideologias,
os que tombaram
ante as tiranias,
os que gemem às
mãos dos sátrapas,
os que respiram sob
todas as inclemências,
os que morreram
devagar entre bons e maus ladrões,
os exilados,
os de alma
repartida por todos os continentes,
os que sucumbiram
às mãos de todos os algozes,
os que anseiam,
os que esperam,
os que vagueiam
perdidos entre a escuridade fria,
os que têm em ti e
só em ti toda a esperança
e só a esperança,
os que te pensam e
te praticam,
a voz ancestral
dessa cantora mágica,
Mercedes ou
Chavela,
Nina ou Miriam,
os que sabem que é
preciso,
de novo preciso,
sempre e para
sempre preciso que alguém te cante e te diga,
e de novo preciso
que sejas inscrita em todas as paredes,
e é preciso,
e é preciso,
e sempre é preciso
e será preciso.
**
Sem ti somos Orfeu
sem Euridice,
Argos sem Ulisses,
folhas sem árvore,
seres só de lama,
sem coração que nos valha.
Sem ti somos a
pequenez das coisas que não prestam,
a mais miserável
das insignificâncias.
Tristão sem Isolda,
rosa de Hélder a
desfolhar-se antes de murchar,
gazela de pernas
quebradas
que a manada
abandona na solidão da planície.
**
Sempre em ti se
cevaram os colmilhos vis de todos os déspotas,
todo o fogo vasto
dos impérios e das ditaduras.
Sempre contra ti se
atiçaram os mastins de todos os soberbos,
os Reis dos Reis,
os tiranos e o
flagelo dos paraísos inventados,
os sicários,
os esbirros,
os beleguins,
os construtores de
cárceres,
os verdugos,
os carrascos,
os torquemadas,
as falanges,
as milícias,
os familiares de
todos os ofícios santos,
os que te invocaram
para te deixar exangue
sob as adagas do
crime,
os cruéis,
os que se
alimentaram da carne dos teus filhos,
os nogaret e os
sciarra collona,
todos os credos
velhos e todos os credos novos,
os vultos obscuros
das obscuras mentes,
os sinédrios e os
concílios,
os padres de todas
as inquisições,
todos os Velhos da
Montanha,
os exércitos negros
da ignomínia,
todas as roças,
todos os sínodos do
medo,
todos os sabres de
teles jordão,
todos os degredos,
todas as
pestilências moles da alma,
todos os barcos
negreiros,
todas as levas de
escravos,
toda a presúria e
toda a devastação,
todos os traidores
a quem Roma afinal não pagou,
todo o dolo,
todos os senhores
de pendão e algara,
todos os potentados
que se quiseram deuses,
todos os Césares e todos
os Rás,
todos os malefícios
da Terra
e os cavaleiros de
mais do que um Apocalipse,
os torturadores,
os assassinos,
os cobardes,
os hipócritas,
os Dez Mil Imortais
marchando sobre o
corpo destroçado dos seus adversários,
os adoradores da
carnificina,
todos os
conquistadores,
todos os caudilhos,
os que se comprazem
no sangue e no medo,
os que se deram ao
massacre e à pilhagem,
os violentos,
os trucidadores,
os cúmplices de
cada matança de inocentes,
os que abriram os
vagões da morte ao final de cada caminho,
e que cantaram a
morte em rudes canções de guerra,
e que glorificaram
a morte que traziam nos braços como a um filho,
e que gritavam Viva
la Muerte,
e que chegavam,
viam e venciam entre rios de morte,
e que santificavam
a morte,
os cultores da morte,
os que abriram, a
cada cerco, a Porta da Traição,
os que não têm
decência,
os que não têm
palavra,
os que não têm
misericórdia,
os que já nem
rostos de homens têm,
já nem rostos nem
alma de homens.
Todos te esmagaram
sobre os seus pés,
todos deixaram no
teu corpo de vestal a marca dos golpes brutais,
a bota cardada dos
batalhões,
a bala dos
esquadrões de assassinos,
o gume gelado do
cutelo,
a terra revolta das
valas comuns,
as bombas da Legião
Condor,
o sangue dos
degolados,
a tristeza dos
exilados,
a saudade dos
fugidos,
a dor dos que
ficaram sós,
a solidão dos
desterrados,
a mágoa dos
subjugados,
o silêncio dos
afogados.
Todos ergueram as
piras,
as cruzes,
os postes da
tortura,
o cadafalso,
a forca,
os sinistros locais
em que intentaram
dar-te definitivo
fim.
Todos cevaram no
teu peito o punhal
e o fuzil,
a baioneta e a
cruz,
o garrote vil
e as armas da
traição.
Todos te açaimaram,
te encarceraram, te
enjaularam, te prenderam,
corda a corda,
ferro a ferro, baraço a baraço,
te lançaram aos
porões sinistros,
te balearam nas
costas pela noite alta,
te abjuraram,
cuspiram na tua
face as palavras infames,
te esmagaram sob os
tanques e os cascos dos cavalos,
te acutilaram com
sabres de pânico,
te atiraram
punhados de sal para te ressecar a carne e os ossos
e para que de ti
nada mais nascesse,
te deram o veneno e
as áspides sinistras.
Todos eles voaram
sobre o teu suposto cadáver,
vampiros,
abutres,
grifos,
seres infernais em
danças demoníacas,
criaturas de lama,
te deixaram
estendida nos becos sujos,
te deram mortes
lentas e difíceis,
te inumaram nos
covais anónimos,
entre cactos e
pedra agreste,
todos te
derrubaram, uma vez e outra
e outra ainda, e
outra vez mais,
entre flores negras
e demónios;
e sempre todavia
renasceste,
sempre
ressuscitaste de entre os mortos,
ao terceiro dia,
ao terceiro ano,
ao terceiro século,
em todos os
milénios,
em toda a floração
dos tempos,
em toda a incrível
enumeração das eras,
sempre renascendo e
sempre ressuscitando,
e voltando a
renascer e a ressuscitar,
entre comoções de
água e vento,
estrela de todas as
manhãs,
companheira de
todas as memórias,
cinzel dos
espíritos que se te deram
e morreram beijando
as tuas mãos divinas,
renascendo e
fazendo-os renascer,
ressuscitando e
fazendo-os ressuscitar,
nomes, lembranças,
recordações,
gestos, palavras
nobres como barcos altos,
corações redivivos
entre a rocha dura,
signos,
símbolos,
criaturas de ti
e crentes de uma
religião que nunca morre.
**
Frente a cada
tirania ergueste a tua espada fresca de futuro,
as tuas peças de
água,
o teu escudo de
violetas e flor de acácia,
os teus paquifes
ornados de alegria e sonho,
e foste heroína e
matriarca,
e fostes vencedora
e triunfal,
e foste juvenil e
rompante,
e vinhas enfeitada
de festas de bondade e paz,
vestida de túnicas
de luz,
coberta de
grinaldas e festões,
couraçada entre
cristais de bronze.
Frente a cada
infâmia e a cada malefício
te ergueste como
uma árvore boa,
engalanada de
cânticos serenos e folhas perenes,
ser de cor e lume
antigo,
mater amorável erguendo
os estandartes por sobre os telhados
e as açoteias,
os velhos
estandartes,
os mais gloriosos,
os mais íntimos,
os mais flamantes,
o estandarte de
Mariana Peneda,
o estandarte da Ala
dos Namorados,
o estandarte de
Sólon,
as brancas
bandeiras da paz,
os pendões da
amizade e da intrepidez,
todos brindando o
vento e o sol que
te beijavam a cada
passo.
Vinhas e passavas
como a deusa antiga
que na verdade eras
e sempre foste,
deusa de segredos
vastos
que dás de beber
aos sequiosos
e entregas vida aos
moribundos,
deusa que renasce
de cada árvore derrubada,
semente de cada de
nós entre as cinzas frias,
mãe extreme e boa,
casa de todos e de
cada um,
irmã comum dos que te aguardam por entre as neblinas.
Vinhas e
seguíamos-te,
nós os pobres do
mundo,
nós os esquecidos,
nós os naufragados
de todas as infâncias,
nós os fracos da
terra,
nós os sem terra,
os sem vida,
os sem tempo,
os sem nome,
os sem História,
os que ficámos
sempre para depois,
os que esperámos
ver o mar no meio dos desertos vastos,
e que pensámos que
haveria outro céu para lá do céu
porque nos disseram
que era assim e que sempre assim seria,
nós os pacientes,
nós os humildes,
nós os
descamisados,
os sans ongevo,
nós que procurámos
os caminhos onde nem veredas existiam,
e contigo íamos,
sob a tua luz,
cantando e
sussurrando o teu nome
em multitudinário
coro,
pedindo-te,
querendo-te,
bebendo de ti,
amando-te em
público segredo.
E quanto nos tardas
quando esperamos!
E quanto nos faltas
quando te ansiamos!
E como desejamos
ver-te caminhando para nós
por sobre as águas,
falcão veloz que
traz a pacífica voz da terra
e o frescor agudo
das marés de Julho,
e o silvo ardente
das aves marinheiras,
e o silêncio de
todas as viagens feitas
e de todas as que
ainda temos por fazer!
**
A todos os que se
sentaram sob a Árvore de Guernika
e aos que viram o
sangue dos seus
e os choraram e
louvaram e honraram com palavras e gestos,
aos que miraram a
morte nos olhos
e a confundiram por
essa coragem de valentes,
aos bravos de corpo
e alma e mente,
aos que tiveram o
espírito alçado para os céus em todas as ocasiões,
a Leónidas e aos
seus sustendo o mundo
entre os penhascos
das Termóplias,
a João Huss
queimado,
e a Giordanno Bruno assassinado,
e a Steve Biko
morto de indiferença e de pancada,
e aos anónimos
marinheiros da Salamina
numa canção viva de
marés e fogo,
e a Joana d’Arc em
visões de anjos e vozes de deuses,
aos que tiveram
nome e perduraram
e aos que o tiveram
e jazem esquecidos, só já pó,
só já imprecisão e
bruma,
aos que sofreram nas
prisões e nos ergástulos,
a Mandela no seu
catre silencioso de décadas,
Sacco,
Vanzetti,
Jacques de Molay,
a Espártaco e a
quantos o seguiram louvando-te
e cantando o teu
nome em loiras sinfonias,
à mães tristes da
Plaza de Mayo,
aos que recusaram
diluir-se no medo e na cobardia,
a Vercingétorix
amarrado ao carro do império vencedor,
aos que levaram a
tua chama aberta por continentes e
oceanos,
aos que te deram
cor e nome e voz e cheiros sempiternos,
a Viriato à frente
dos seus companheiros,
aos que morreram
por ti entre álamos e acácias,
a quantos, em
Thingvellir, tomaram a palavra para te
dizer e te afirmar,
aos fracos que no
entanto se engrandeceram de ti,
aos pusilânimes
que não obstante deram combate por tua
sagrada voz,
aos pequenos que se
enobreceram por teu nome,
a Wallace,
aos velhos
pescadores de 1808,
aos homens da
Candosa,
aos martirizados e
aos enforcados a cada revolta e a cada era,
aos que tomaram
todas as bastilhas,
aos de 2 de Mayo,
aos que sentiram
sacudir-se-lhes no peito o centenar de folhas da tua árvore,
das tuas muitas
árvores, todas frondosas e altivas,
aos que subiram e
desceram as mais altas montanhas para te procurar,
aos de Mileto e aos
de Samos,
aos das jacqueries,
a Patrice Lumumba,
aos que lindaram a
vida com a morte e venceram uma e outra pensando em ti,
aos que
desconhecemos mas tu conheces,
aos que prescutaram
o fogo antigo,
aos que
sobreviveram a todos os labirintos
e a todos os
minotauros,
aos que dispararam
a flecha de Guilherme Tell,
aos fuzilados de
Goya,
aos que te veneram
no altar seguro do coração
em solene silêncio,
aos que sustentaram
o teu nome quando contra ti blasfemavam
as vozes da
injustiça,
aos que sofreram o
sopro dos canhões nas trincheiras de todas as Comunas,
aos que viram
florir em Praga a mais bela das primaveras,
aos que têm nos
pulsos latejando um rio, um lago ancião,
uma vetusta
corrente de águas e sonhos mansos,
a todos os loucos e
visionários,
quixotes andantes
em triste figura
mas livres pelas
campinas,
a todos os que
nunca abjuraram,
aos que nunca se
renderam em teu prejuízo,
a Pelayo na Cueva
obscura,
a Guiseppe
Garibaldi à desfilada pelas planícies,
aos de Numancia e
aos de Sagunt,
aos defensores de
Masada como anjos suicidas,
ao mensageiro de
Maratona,
aos que preferiram
morrer a negar-te,
aos que escavaram
túneis dentro de si mesmos
e saíram no outro
lado de si novos e divinos,
aos que derrubaram
as cercas e os muros,
aos que viram a sua
carne rasgada pelas farpas
nos arames de
Berlim,
ao pequeno felá
derrubado ao peso das mastabas,
aos construtores de
Tebas, a das Sete Portas, cujo nome
não vem nos livros,
aos que boiaram, já
cadáveres, no Landwherkanall,
aos humildes e aos
profanos,
às tribos
distantes, aos velhos e aos novos,
aos que te
brindaram poemas e canções
em verso e rima,
aos que te
expuseram ao mundo,
aos que ferveram no
touro de bronze de Faláris,
aos que te
receberam sempre e sempre
e aos que apenas
uma só e definitiva vez te encontraram,
aos que riram
contigo
e choraram contigo
e dançaram e
cantaram contigo
e juraram contigo
glórias eternas que nunca poderiam existir
que não na única
glória do teu nome,
a todos sempre,
inseparável noiva, deste a mão
e foste guia pelos
vales eternos da injustiça obscura,
a todos passaste o
braço protector derredor dos ombros
e os conduziste
pela estrada difícil das vidas por fazer;
e todos em silêncio uníssono ou em uníssona voz,
no amplo continente
do pensamento
ou na força aberta
da palavra,
todos, todos,
sempre todos mesmo
quando eram cada um e sós,
todos,
vivendo ou morrendo,
na mais alta
alegria ou na mais penosa das aflições,
na grandeza e na
miséria,
na secura das
plagas distantes
ou nos mares
longínquos,
nas masmorras ou no
calor terno dos lares,
todos te louvaram
e todos brindaram
ao teu nome.
E o teu nome é
Liberdade!
*
ODA A LA
LIBERTAD
Te vieron los pueblos en ansiedad y espera,
te amaron los buenos,
los humildes,
los que te buscaron sin descanso,
los que te quieren por encima de las cosas que es
posible decir,
los que marchan a través de la oscuridad y el
miedo,
los desnudos,
todos los hiliotas de la Tierra,
los que yacen derribados por la esclavitud y la
pena.
Te buscan cada día y cada hora,
en cada uno de los océanos,
en cada lejano otero,
todas las criaturas que por el mundo yerran,
y todas las criaturas que albergan en sí cielos y mares,
los animales del bosque,
los animales bondadosos,
las aves de cada nube y cada árbol,
los cautivos,
los enjaulados,
los que serán en breve sacrificados a los dioses o
a las voluntades
y que no aciertan a comprender,
los que apenas buscaban el amor y el cariño
y a cambio obtuvieron el dolor y la tortura,
todos los peces del océano, neptunos sin
divinidad,
y todos los hombres en cada palabra dicha
y en cada palabra por decir,
y has sido la mayor y más vasta de las religiones,
diosa siempre,
siempre interminable diosa,
la más casta siempre entre las castas,
la que vimos florecer en cada hora mágica
entre sierpes y cardos,
naciendo de la dura tierra
y de los destinos vacíos,
la llena de gracia.
Y siempre fuimos tus creyentes, tus fervorosos
creyentes,
tus adoradores, tus peregrinos,
caminando siempre en pos de ti
en cada una de tus casas,
en cada una de tu canciones,
poniendo música a las coplas donde se esconde tu
nombre,
y murmurando los cánticos en los que se exalta tu
nombre,
y oyendo, absortos, la delicadeza de tu nombre,
y sintiendo el frescor que a cada verano da tu
nombre,
y clamando tu nombre como si fuera una oración a
la diosa,
bosque y tierno pan de trigo,
cereza, café y memoria de la vieja casa,
mañana de horchatas y lilas
silencio y paz y corazón de vientos,
torre alta entre peñascos y brisa,
tarde cordial abriéndose en lirios y corales.
Tu nombre,
siempre tu nombre, para siempre.
Y marchamos en tu nombre y en él vamos,
alados dioses menores a buscarte,
ángeles elegidos para seguirte,
viendo y oyendo lo que hay que saber
y teniendo por ojos tus antiguas iniciales
y por oídos el recuerdo de tu antigua historia.
**
Cantaste con Verdi en el coro de los esclavos,
y estaba tu voz en cada una de sus voces,
y fuiste sangre y sueño y orla de un nuevo mundo,
y tuviste que romper grilletes en cada Quilombo
dos Palmares,
en cada Cabaña de cada Viejo Tomás,
en cada choza incendiada que apagaba las
llamaradas,
y tuviste el bosque de Sherwood por albergue,
y Wadi Rum por vereda,
y amamantaste la esperanza y la espera de cada
vasallo
y de cada siervo de gleba,
de cada moribundo que balbució tu nombre en su
último suspiro,
de cada héroe desconocido que te gritó
en cada batalla desconocida,
en los altos hornos,
en los campos de maíz,
en los cerrados bosques,
en los arrozales,
en los cerros lejanos,
en el galope de las pampas,
en cada Wiryamu,
en cada uno de los peldaños de las escalitas de
Odessa,
en cada trinchera donde se aireaban
tu gesto y tu voz antigua,
esa tan antigua voz tuya.
**
Al sentarnos alrededor del primer fuego,
simios,
primates,
homínidos,
criaturas de pasmo y prodigio,
recién descendidos de los árboles,
y ni siquiera sabíamos cómo llamarte,
tú te nos ofrecías entera,
y tu cuerpo y tu cariño y tu nombre fueron la
tierra toda,
y dejábamos en tus manos el futuro
pues ningún futuro se cumplía,
y ni siquiera había pasado,
y era todo el día, el solo día de cada día,
y allí estabas tú, siempre
siempre,
en el fuego,
en la libre respiración de los vientos,
en las largas bocanadas de la tierra,
y te sentíamos en cada convulsión de los montes,
en cada erupción que agitaba las entrañas del
mundo,
en cada uno de esos infinitos páramos que
desaguaban junto a los ríos,
en los vastos horizontes que lindaban con los
perdidos confines.
Te seguíamos sin buscarte, pues eras nuestra,
y sin guardarte con avaricia, pues te dabas,
permanente,
generosa,
maternal,
juvenil y festiva como las auroras,
pájaro que se posaba en todo el cielo,
madre común,
perpetua,
amorosa y llena de bondad,
y te hacías ver en cada galope de corza,
en cada paso de las manadas,
en las correrías de los lobos,
en el fiero rugido del jaguar,
en el fuego abierto de los díascuando todo era
peregrino y joven
y en nuestras vidas latía el misterio de todos los
sentidos,
y en nuestras horas un largo instante sin horas,
y en nuestra fraternidad un lago donde bogaban
barcos aún no soñados,
en tu presencia la mano y el regazo
cuando a la noche dormíamos
alrededor del primer fuego.
**
Es necesario, que de nuevo, como Eluard, alguien
te cante y te nombre,
que seas inscrita en cada pared y en cada muro,
en cada muralla que nos separa y golpea.
Necesario, de nuevo,
porque siempre es necesario,
y nunca es tarde,
y nunca es pronto,
y toda hora es la hora,
porque en cada instante palpitas en cada una de
las piedras
en cada casa,
en cada aldea, en cada ciudad,
en cada mundo conocido
y en cada mundo por inventar.
Es necesario que te invoquen los tristes y los
desdichados,
los que te tienen por única fortuna,
los que se sienten perdidos al perderte,
los que cavaron trincheras para alzarte,
como una fogata encendida, en cada alma y en cada
puerta,
los que te acompañaron en todas las jornadas
en cada una de las siete direcciones del infinito.
Es necesario de nuevo forjar todos los amores con
carácter de urgencia
para que ninguna patria sea lugar para el exilio,
ningún lugar sea lugar del miedo,
ninguna fosa sea el latifundio fúnebre de pobres
severinos,
ningún patíbulo se alce para irritar a tus hijos.
Hay que cantarte como Filipe en cada año perdido
de 1962,
libre de ir donde quisiera
mas prisionero en su propia ciudad.
Es necesario que el obediente perro que acaricias
ladre feliz
por tenerte y por sentirte,
que cada bestia de cada selva,
de cada bosque,
de cada latitud
parta tu espíritu abierto en las sabanas,
tu cuerpo de miel y sueño dulce,
que siempre flotes como um arce o un Olimpo
sobre nuestras arrebatadas criaturas,
fuego encendido,
visión de tiernos ángeles,
orquídea de oscura sensación,
luz de octubre,
susurro de antiguos bosques,
fantasía de lo días pasados,
unicornio,
quimera,
esfinge,
fénix,
sirena,
circe,
ronin perdido,
jade,
ópalo seco,
diamante líquido,
hada,
fauno,
Pegaso altivo,
Orfeo sin lira,
todo siempre en ti y en cada uno de nosotros.
Es necesario que de nuevo te alcen los que sufren
en cada Gulag,
en cada prisión,
en cada fosa común,
en cada habitación,
en cada túnel innecesario,
en cada cárcel innoble,
los hijos y los nietos de los sobrevivientes y de
los muertos,
las víctimas de todos los dioses,
las presas de todas las inquisiciones,
los fusilados de todas las paredes y de todas las
ideologías,
los que cayeron ante las tiranías,
los que gimen en manos de los sátrapas,
los que respiran bajo todo tipo de inclemencias,
los que murieron despacio entre buenos y malos
ladrones,
los exilados,
los de alma dividida por los cinco continentes,
los que han sucumbido a manos de todos los
verdugos,
los que ansían,
los que esperan,
los que vagan perdidos entre la fría oscuridad,
los que en ti y solo en ti ponen su esperanza
y sólo la esperanza,
los que te piensan y te practican,
la voz ancestral de esa cantante mágica,
Mercedes o Chavela,
Nina o Miriam,
los que saben que es necesario,
otra vez necesario,
siempre y para siempre necesario que alguien te
cante y te nombre,
y de nuevo necesario que vuelvas a ser escrita en
todas las paredes,
y es necesario,
y es necesario,
y siempre es necesario
y siempre lo será.
**
Sin ti somos Orfeo sin Eurídice,
Argos sin Ulises,
hojas sin árbol,
seres de fango, sin un corazón que nos valga.
Sin ti somos la pequeñez de las cosas que no
importan,
la más miserable de las insignificancias.
Tristán sin Isolda,
la rosa de Hélder deshojándose antes de mustiarse,
gacela de patas rotas
que la manada abandona en la soledad del páramo.
**
En ti siempre se cebaron los viles colmillos de
todos los déspotas,
todo el vasto fuego de los imperios y las
dictaduras.
Contra ti siempre se azuzaron los mastines de
todos los soberbios,
los Reyes de Reyes,
los tiranos y el flagelo de los paraísos
inventados,
los sicarios,
los esbirros,
los corregidores,
los constructores de cárceles,
los verdugos,
los torturadores,
los torquemadas,
las falanges,
las milicias,
los familiares de todos los santos oficios,
los que te invocan para luego dejarte exangüe
bajo las dagas del crimen,
los crueles,
los que se alimentaron de la carne de tus hijos,
los nogaret y los sciarra collonna,
todos los viejos y los nuevos credos,
las excrecencias oscuras de las oscuras mentes,
los sanedrines y los concilios,
los padres de todas las inquisiciones,
todos los Viejos de la Montaña,
los ejércitos negros de la ignominia,
todas los cafetales,
todos los sínodos del miedo,
todos los sables de teles ongev,
todos los destierros,
todas las pestilencias del alma,
todos los barcos negreros,
todas las levas de esclavos,
toda a rapiña y toda la devastación,
todos los traidores a quien Roma no pagara,
todo el fraude,
todos los señores de pendón y escaramuzas,
todos los potentados que se quisieron dioses,
todos los Césares e todos los Rhas,
todos los maleficios de la Tierra
y los caballeros de más de un Apocalipsis,
los torturadores,
los asesinos,
los cobardes,
los hipócritas,
los Diez Mil Inmortales
marchando sobre el cuerpo destrozado de sus
adversarios,
los adoradores de la escabechina,
todos los conquistadores,
todos los caudillos,
los que se complacen en la sangre y en el miedo,
los que se dieron a la masacre y al pillaje,
los violentos,
los degolladores,
los cómplices de cada matanza de inocentes,
los que abrieron los vagones de la muerte al final
de cada camino,
y que cantaran a la muerte en rudas canciones de
guerra,
y que glorificaron la muerte que cargaban en su
brazos, como un niño,
y que gritaron Viva la Muerte,
y que llegaban, veían y vencían entre ríos de
muerte,
y que santificaban la muerte,
los sembradores de muerte,
los que abrieron, cerco a cerco, la Puerta de la
Traición,
los que no tienen decencia,
los que no tienen palabra,
los que no tienen misericordia,
los que ya no tienen ni rostros de hombres,
ni rostros ni alma de hombres.
Todos te pisotearon,
todos dejaron en tu cuerpo de vestal la marca
brutal de los golpes,
la bota cardada de los batallones,
la bala de los escuadrones de asesinos,
el filo helado del cuchillo,
la tierra revuelta de las fosas comunes,
la bombas de la Legión Cóndor,
la sangre de los degollados,
la tristeza de los exiliados,
la nostalgia de los huidos,
el dolor de quienes se quedaron solos,
la soledad de los desterrados,
la tristeza de los subyugados,
el silencio de los ahogados.
Todos alzaron sus piras,
las cruces,
los potros de tortura,
el cadalso,
la horca,
los siniestros lugares donde intentaron
darte el fin definitivo.
Todos cebaron en tu pecho el puñal
y el fusil,
la bayoneta y la cruz,
el garrote vil
y las arma de la traición.
Todos te reprimieron,
te encarcelaron, te enjaularon, te prendieron,
cuerda a cuerda, hierro a hierro, cordel a cordel,
te lanzaron a las siniestras galeras,
te dispararon en la espalda durante la alta noche,
abjuraron de ti,
escupieron en tu cara palabras infames,
te aplastaron bajo los tanques y los cascos de las
caballerías,
te acuchillaron con sables de pánico,
te tiraron puñados de sal para resecarte la carne
y los huesos
y para que de ti nada más naciese,
te suministraron veneno y áspides siniestros.
Todos ellos volaron sobre tu supuesto cadáver,
vampiros,
buitres,
grifos,
seres infernales en danzas demoníacas,
criaturas de fango,
te dejaron tirada en callejones infectos,
te dieron muertes lentas y difíciles,
te inhumaron en tumbas anónimas,
entre cactus y agrestes pedruscos,
todos te derribaron, una y otra vez y otra
y aún otra, y una vez más,
entre flores negras y demonios;
y aun así renaciste,
resucitaste siempre de entre los muertos,
al tercer día,
al año tercero,
en el tercer siglo,
en todos los milenios,
en toda la floración de los tiempos,
en toda la increíble enumeración de las eras,
siempre renaciendo y siempre resucitando,
y volviendo a renacer y a resucitar,
entre conmociones de agua y viento,
estrella de todas las mañanas,
compañera de todas las memorias,
cincel de los espíritus que se te ofrecieron
y murieron besando tus manos divinas,
renaciéndolas y volviendo a renacer,
resucitando y haciéndolos resucitar,
nombres, recuerdos, memorias,
gestos, palabras nobles como altos barcos,
corazones redivivos entre la roca dura,
signos,
símbolos,
creaciones tuyas
y creyentes de una religión que nunca muere.
**
Frente a cada tiranía erguiste tu espada fresca de
futuro,
tu porción de agua,
tu escudo de violetas y flor de acacia,
tus plumeros decorados de alegría y sueño,
y fuiste heroína y matriarca,
y fuiste vencedora y triunfante,
y fuiste juvenil y orgullosa,
y venías aderezada de fiestas de paz y bondad,
vestida de túnicas de luz,
cubierta de afeites y guirnaldas,
acorzada por cristales de bronce.
Frente a cada infamia y a cada maleficio
te erguiste como un buen árbol,
coronada de cánticos serenos y perennes hojas,
ser de color y fuego antiguo,
mater amorosa alzando los estandartes sobre los
tejados
y las azoteas,
los viejos estandartes,
los más gloriosos,
los más íntimos,
los más flamantes,
la bandera de Mariana Pineda,
el estandarte de Ala dos Namorados,
el estandarte de Solón,
las blancas banderas de la paz,
los pendones de la amistad y del arrojo,
todos brindando al viento y al sol que
a cada paso te besaban.
Venías y pasabas como una diosa antigua
la que en verdad siempre fuiste,
diosa de vastos secretos
que das de beber a los sedientos
y a los moribundos das vida,
diosa que renace de cada árbol derribado,
semilla de cada uno de nosotros entre las frías
cenizas,
madre cuidadosa y buena,
casa de todos y de cada uno,
hermana común de los que te aguardan por entre la
niebla.
Venías y nosotros te seguíamos,
los pobres del mundo,
los olvidados,
los náufragos de todas las infancias,
los hambrientos de la tierra,
los sin tierra,
los sin vida,
los sin tiempo,
los sin nombre,
los sin Historia,
los que quedamos siempre para más tarde,
los que esperamos ver el mar en medio de los más
vastos desiertos,
y que creemos que debiera haber un cielo más allá
del cielo
porque nos dijeron que así sería y que así lo
sería siempre,
nosotros, los pacientes,
los humildes,
los descamisados,
los desarrapados,
los que buscamos los caminos donde no existen ni
siquiera veredas
e íbamos contigo,
bajo tu luz,
cantando y susurrando tu nombre
en un coro multitudinario,
pidiéndote,
queriéndote,
bebiendo de ti,
amándote en público secreto.
¡Y cuánto tardabas mientras te esperábamos!
¡E cuánto nos faltas cuando te anhelamos!
¡Y cómo deseamos verte caminando hacia nosotros
sobre las aguas,
veloz halcón que nos traes la pacífica voz de la
tierra
y el frescor punzante de los mares de Julio,
y el silbo ardiente de las aves del mar,
y el silencio de todos los viajes realizados
y de todos los que aún nos quedan por hacer!
**
A todos los que se sentaron bajo el Árbol de
Gernika
a los que vieron la sangre de los suyos
y los lloraron o alabaron y honraron con palabras
y con gestos,
a quienes miraron la muerte cara a cara
y la confundieron por ese coraje de valientes,
a los bravos de alma y mente,
a quienes elevaron el espíritu a los cielos en
todas las ocasiones,
a Leónidas y a sus sostenedores del mundo
entre los peñascos de Las Termópilas,
a Jan Huss quemado,
y a
Giordanno Bruno asesinado,
y a Steve Biko muerto a bofetadas de indiferencia,
y a los anónimos marineros de Salamina
en su canción viva de mareas y de fuego,
y a Juana de Arco en su visión de ángeles y voces
de dioses,
a los que tuvieron nombre y lo hicieron perdurar
y a los que lo tuvieron y ahora yacen olvidados,
polvo ya,
imprecisión y bruma,
a los que sufrieron en las prisiones y en las
mazmorras,
a Mandela en su silencioso catre de décadas,
a Sacco,
a Vanzetti,
a Jacques de Molay,
a Espartaco y a cuantos siguieron alabándole
y cantando tu nombre en rubias sinfonías,
a las tristes Madres de Plaza de Mayo,
a los que rechazaron diluirse en el miedo y en la
cobardía,
a Vercingetorix atado al carro del imperio
vencedor,
a los que pasearon tu llama abierta por
continentes y océanos,
a quienes te dieron color y nombre y voz y olores
sempiternos,
a Viriato al frente de sus compañeros,
a los que murieron por ti entre álamos y acacias,
a cuantos, en Thingvellir, tomaron la palabra para
nombrarte y afirmarte,
a los pobres que mientras se engrandecen de ti,
a los pusilánimes que a pesar de todo lucharon por
tu sagrada voz,
a los pequeños que se ennoblecieron con tu nombre,
a Wallace,
a los viejos pescadores de 1808,
a los hombres de Candosa,
a los mártires y a los ahorcados en cada revuelta
y cada época,
a quienes tomaron todas las bastillas,
a los del 2 de Mayo,
a los que sintieron que el pecho les latía con el
centenar de hojas de tu árbol,
de tus muchos árboles, todos frondosos y altivos,
a los que subieron y bajaron de las más altas
montañas para buscarte,
a los de Mileto y a los de Samos,
a los de las jacqueries,
a Patrice Lumumba,
a quienes lucharon contra la vida y contra la
muerte y a ambas vencieron pensando en ti,
a quienes desconocemos pero tú conoces,
a quienes interrogan al antiguo fuego,
a quienes sobrevivieron a todos los laberintos
y a todos los minotauros,
a los que dispararon la flecha de Guillermo Tell,
a los fusilados de Goya,
a los que te veneran en el altar seguro del
corazón
en solemne silencio,
a quienes sostuvieron tu nombre cuando contra ti
blasfemaban
las voces de la injusticia,
a quienes sufrieron el resuello de los cañones en
las trincheras de todas las Comunas,
a quienes vieron florecer en Praga la más bella de
las primaveras,
a quienes le laten los pulsos como un río, un
viejo lago,
una vieja corriente de aguas y mansos sueños,
a todos los locos y visionarios,
andantes quijotes de triste figura
pero libres por esas campiñas,
a todos los que jamás abjuraron,
a los que nunca se rindieron en tu perjuicio,
a Pelayo en la Cueva obscura,
a Giuseppe Garibaldi en el desfile de los páramos,
a lo numantinos, a los de Sagunto,
a los defensores de Masada como ángeles suicidas,
al mensajero de Maratón,
a quienes prefirieron morir a negarte,
a quienes escavaron túneles dentro de sí mismos
y salieron al otro lado divinos, renovados,
a los que derribaron cercas y muros,
a quienes vieron su carne rasgada por las púas
de las alambradas de Berlín,
al pequeño paria derribado por el peso de las
mástabas,
a los constructores de Tebas, la de las Siete
Puertas, cuyo nombre
no aparece en los libros,
a los que flotaran, ya cadáveres, en
Landwherkanall,
a los humildes y a los profanos,
a las tribus remotas, a los viejos y a los jóvenes,
a quienes brindaron canciones y poemas
en verso y rima,
a los que te expusieron ante el mundo,
a quienes se enfervorizaran ante el broncíneo toro
de Faláris,
a quienes te recibieron siempre y siempre
a los que solo una sola y definitiva vez te encontraron,
a quienes rieron contigo
y lloraron contigo
y bailaron y cantaron contigo
y juraron contigo glorias eternas que ya nunca
serían
en la única gloria de tu nombre,
a todos siempre, inseparable novia, ofreciste la
mano
y fuiste guía por los valles eternos de la
injusticia oscura,
a todos pasaste tu brazo protector sobre los
hombros
y los condujiste por la calle difícil de las vidas
por hacer;
y todos en un silencio unísono o en una unísona
voz,
en el vasto continente del pensamiento
o en la fuerza abierta de la palabra,
todos, todos,
siempre todos incluso cuando eran cada uno uno
solo,
todos,
viviendo o muriendo,
en la más alta alegría en la más penosa de las
aflicciones,
en la grandeza y en la miseria,
en la salud de las plagas remotas
o de los mares lejanos,
en las mazmorras o en el tierno calor de los
hogares,
todos te alabaron
y todos brindaron pro tu nombre.
Y tu nombre es
¡Libertad!
Fernando Cabrita. En: ODE À LIBERDADE E OUTROS POEMAS / ODA A LA LIBERTAD Y OTROS POEMA. Edição Bilingue. Tradução para castellano por Manuel Moya. PRÉMIO INTERNACIONAL PALAVRA IBÉRICA 201. GENTE SINGULAR editora.
Ilustración: Josep Renau
Empiezo con William Wallace, cuando decía aquello de: ¡JAMÁS NOS QUITARÁN LA LIBERTAD! (Justo antes de matarlo).
ResponderEliminarNo me autodenomino anarquista porque no hago lo suficiente y no siento que me lo merezca, pero buena parte de las ideas del comunismo libertario siguen pareciéndome absolutamente válidas a día de hoy (aunque entiendo que necesitan una revisión y una crítica seria para detectar qué ha fallado).
Y vuelvo otra vez a Wallace: "Tu corazón es libre, ten valor para escucharlo". (Lo malo es que también tenemos cerebro...).
Enhorabuena al autor del poema y un enorme abrazo libertario.
Gracias por tu lectura y tus comentarios... un abrazo fraterno de otro que aunque no es anarquista, le gustaría serlo.
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