Um dia reparamos
como desapareceram
ardósias ardoiças
alfarrabistas
aventais
alegretes
pequeninos onde sorria uma dália
ou outra flor
antiga
e que o que
resta é o eco do eco da voz dos mortos
a voz fria das
coisas que um dia foram presença e luz
o rio exausto e
seco do que inapercebidamente foi
Um dia há em que
reparamos que um retrato se escorreu da moldura
que uma fresta
por onde voava a luz se entaipou
E já não sabemos
recordar o que nunca iríamos ter que recordar,
o que era e
seria,
o presente para
sempre
Os que foram
como foram e já não são
bedéis
bufarinheiros
berlindes
boninas
cântaros e
cabaças
cálices
castiçais
Tudo perdido na
cânfora dos dias
Tudo sumido em
desfiladeiros e passagens que a seguir se ocultam
Tudo caminhos de
nada a nada
onde se perderam
os que viajavam connosco,
os comboios a
esfumar-se em tíbios horizontes,
o vento a ir-se,
esguio a ir-se, a ir-se.
E olhamos o céu
que havia certo e seguro,
céu rútilo para
sempre, amável para sempre, delicado para sempre,
e o que vemos
são céus outros de modalidades pardas,
policromias
raras e difíceis fantasmas de fantasmas
espectros de
espectros ,
todos debruçados
a vastas melancolias
paredões vagos
onde se putrem os fuzilados pelo tempo
dedais dolências domingos tristes
nomes coisas
criaturas que foram felizes connosco
ao sol quando
havia sol, à chuva quando havia chuva
navios
disparados contra o vento,
sonhos que se
iam
ausências vagas
hibiscos mortos
a crescer em ignoradas margens,
uma brisa no Sul
aquele outro Sul
derradeiro e extinto,
um sorriso
aberto que se cerrou um dia,
uma estátua
antiga que se delinquiu,
um móvel velho onde já só resta a loiça
quebrada
empreitas e
enxergas, ermidas ergástulos
onde se
exauriram sonhos e despedidas,
rochas que
sibilavam de águas e loendros
farófias
fuligens festões farelos,
casinhas antigas
que já não assomam na distância,
Senhoras Nagonia
que vão que iam tão lindas barra fora
no seu erro de
ortografia
E esses livros
que líamos e agora não sabemos onde ficaram
E as folhas
rasgadas da vida que falta,
griséus guaritas
ganchorras guisos gorpelhas gargantilhas
da prata mais
argentina
golilhas que
recendem no silêncio entre opalas e açores
jeropigas, latões
lapiseiras lilases
lanterninhas a
ofuscar o escuro
sons moribundos
de arrastadas grafonolas,
gente apressada
em aeroportos,
gente que corre,
gente de portão a portão,B6: A 40:
Porta 24;
senhores passageiros, atenção, vai dar entrada na
linha número
seis um sonho que supúnhamos perdido para sempre,
vedado para a
eternidade,
uma fantasia
anciã,
um belo memorial
de coisas desvanecidas
mistérios
mantilhas mortalhas
a substância
cruel da realidade
nortadas nozes natais
em família Nau Catrineta de navegações distendidas
corações
desocultados
sentimentos por
oceanos impossiveis
ossários ousios
oratórios ourelos que os anos descabelaram
peles vazias de
coisa nenhuma
tessituras ocas
ocas bandeiras
hinos
candil tremente
a liquefazer-se
e nós sorrindo
como se nada fosse quando já nada é
Bom dia,
bons-dias, tudo bem, sim, claro, tudo bem,
pandeiretas
podengos pobres pilhetas pim pam pum
um fado de uma
Severa a que faltou a voz,
altares caídos
na penumbra de um nada
casas devassadas
janelas que não mais se abriram
e nenhum horizonte, nenhum horizonte, nenhum
horizonte
já nenhum
horizonte
árvores que
deixaram de crescer
deuses
distraídos a consentir-se naufragar
quebrantos, querubins
quermesses
circunavegação
por mares inventados
como um verbo a
que desse a deusa ceptro e justiça
e descessem nele as aves a buscar um ninho
roseirais ribeiras récuas
sebentas serões
searas
sombrinhas serestas
por guitarras desacordes
plangentes
flautins em notas perdidas,
pianos a que
falta uma tecla,
batéis
desenxutos ,
vestidos de
cerimónia remordidos pela traça,
becos sem saída
onde chora um gato aflito,
tairocas,
terrinas, toldos
toda essa
tintura de iodo dos espíritos inadormecidos
tragédias
pessoais em que revíamos os anos que iam e vinham
e se sentavam no
poial das portas, o velho e o burro,
as mãozinhas de
metal que batiam nas venezianas
unguentos
vozes, vizinhas
velas por soprar, valados , voragens de meses sobre meses
e almas
desgarradas, candelabros onde soprou um vento bom
e a luz e a luz
e a luz,
tudo o que
interrompe mas nunca acaba
ecos ecos
ecosecoecoececeeeeeeeeeeee
e as poucas
madrugadas onde não brilhasse o sol
ou não viesse a
nostalgia de um amor perdido
essa carmínia
voz do fogo uum semblante de alguém
que soubemos
quem era e hoje não sabemos quem é
rosmaninho onde
demora uma lembrança antiga
xailes
Zigurates,
zangãos, zorrinhas
e tudo o que já
não existe
E tudo o que já
não existe
E tudo o que já
não existe.
E vemos a vida
passar em palavras que eram coisas
e vemos a vida a
passar em detersão de sonhos
e vemos a vida a
passar em rios que se secaram
e dias que se
deliram
e vemos a vida a
passar nos pássaros que deixaram de regressar aos beirais
E vemos a vida a
passar nos nossos que se foram, pai, mãe,
os nossos, os
nossos, os amigos, a família,
os nossos, os nossos
doces animais, os nossos,
os que foram, os
que foram,
os que foram
os que foram
como um alfabeto
que não tivesse fim.
Fernando Cabrita. Missa Branca. Poesía a Sul, 2020
Farol,
2018 / Oued el Hachef 2018
Fotografía de Carmen Lourdes Fdez. de Soto
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Un día notamos como desaparecieron
pizarras de pizarra
delantales de librería usados
pequeñas alegrías donde una dalia sonríe
u otra flor antigua
y que lo que queda es el eco del eco de la voz de los muertos
la voz fría de las cosas que alguna vez fueron presencia y luz
el río agotado y seco que pasó desapercibido
Un día notamos que un retrato ha goteado del marco
que una grieta por donde volaba la luz estaba bloqueada
Y ya no sabemos recordar lo que nunca tendríamos que recordar
que fue y que seria,
el presente para siempre
Los que eran como eran y ya no son
bedels de búfalo
gorras de canicas
jarras y calabazas
candelabros
Todo perdido en el alcanfor de los días
Todo desapareció en desfiladeros y pasajes que se esconden debajo
Todos los caminos de la nada a la nada
donde se perdieron los que viajaban con nosotros,
los trenes se desvanecen en horizontes tibios,
el viento para ir, delgado para ir, para ir.
Y miramos el cielo que estaba seguro y a salvo,
cielo rutilo para siempre, amable para siempre, delicado para siempre,
y lo que vemos son otros cielos de modalidades marrones,
fantasmas policromos raros y difíciles de fantasmas
espectros de espectro,
todo inclinado sobre vasta melancolía
malecones vacíos donde los asesinados por el tiempo son ejecutados
dedales tristes
nombra cosas criaturas que estaban felices con nosotros
en el sol cuando había sol, en la lluvia cuando llovía
barcos disparados al viento,
sueños que se fueron
ausencias vagas
hibisco muerto creciendo en bancos ignorados,
una brisa en el sur
ese otro último y extinto Sur,
una sonrisa abierta que se cerró un día,
una estatua antigua que era delincuente,
un mueble viejo donde solo quedan los platos rotos
contratistas y persianas, ermitas y ergastulas
donde los sueños y las despedidas se agotaron,
rocas que silbaban de aguas y adelfas
farofias hollín, guirnaldas de salvado,
casas antiguas que ya no perduran en la distancia,
Nagonia damas que iban tan hermosas fuera del bar
en tu error de ortografía
Y esos libros que leemos y ahora no sabemos dónde estaban
Y las hojas rotas de la vida perdida
gargantillas grises gargantas disfraces gorpelhas gargantillas
la plata más argentina
kebabs que huelen en el silencio entre ópalos y azores
jeropigas, lapices de latón lilas
linternas que eclipsan la oscuridad
sonidos moribundos de arrastrar graffiti,
gente apresurada en los aeropuertos,
gente que corre, gente de puerta en puerta, B6: A 40:
Puerto 24; Pasajeros, atención, ingresarán al
línea número seis un sueño que creíamos perdido para siempre,
sellado por la eternidad,
una vieja fantasía
un hermoso memorial de cosas descoloridas
misterios tocados mortajas
la cruel sustancia de la realidad
norten navidad nueces en familia Nau Catrineta de navegaciones distendidas
corazones desvelados
sentimientos por océanos imposibles
osarios atrevidos oratorios tobilleras que los años han despeinado
nada pieles vacías
tejidos huecos
banderas huecas
himnos
candil tembloroso para licuar
y estamos sonriendo como si nada es cuando nada es
Buenos días, buenos días, está bien, sí, por supuesto, está bien,
pandeiretas podengos pobres pilhetas pim pam pum
un destino de una Severa a la que le faltaba la voz,
altares caídos en las sombras de ninguna parte
las casas caprichosas ventanas que ya no se abrían
y sin horizonte, sin horizonte, sin horizonte
ya no hay horizonte
árboles que han dejado de crecer
dioses distraídos para consentir en hundirse
quebrantos, querubines quermesses
circunnavegación por mares inventados
como un verbo para dar a la diosa cetro y justicia
y dejar que los pájaros bajen en busca de un nido
rosales arroyos
seiscientos campos de maíz
serenata paraguas por guitarras desacuerdos
flautín quejumbroso en notas faltantes,
a los pianos les falta una tecla,
porras resbaladizas,
vestidos ceremoniales que recuerdan a la polilla,
callejones sin salida donde un gato afligido llora,
tairocas, terrinas, toldos
toda esta tintura de yodo de los espíritus inconscientes
tragedias personales en las que repasamos los años que iban y venían
y se sentó en la parte de atrás de las puertas, el anciano y el burro,
las manitas de metal que golpean las contraventanas
ungüentos
voces, velas vecinas para soplar, zanjas, torbellinos de meses y meses
y almas extraviadas, candelabros donde soplaba un buen viento
y la luz y la luz y la luz,
todo lo que interrumpe pero nunca termina
Ecos Ecos Ecosecoecoececeeeeeeeeeeee
y los pocos amaneceres donde no brillaba el sol
o no vendría la nostalgia de un amor perdido
esa carminia voz de fuego un semblante de alguien
que sabíamos quien era y hoy no sabemos quien es
romero donde lleva un viejo recuerdo
chales
Zigurats, drones, santos
y todo lo que ya no existe
Y todo lo que ya no existe
Y todo lo que ya no existe.
Y vemos pasar la vida en palabras que eran cosas
y vemos que la vida continúa en sueños
y vemos pasar la vida en ríos que se han secado
y dias delirantes
y vemos pasar la vida en los pájaros que ya no mandan