LAVANDARIA / LAVANDERÍA

 

lavandaria

 

 

 

deixa-me pegar no teu coração.

não tenhas medo. sei o que faço.

tenho as unhas cortadas, vais ver

nem sequer o sangue te arranho

 

vou submetê-lo à máquina, o teu

coração. vou lavá-lo a 180 graus.

tudo o que alguma vez amaste

se converterá em ângulos rectos

 

seixa (deixa?) que te seque o coração como

se trocasse a lâmpada à primavera.

com a máquina-de-lavar-corações

suprimirei as nódoas, o borboto

 

enquanto esperas pelo teu coração

ofereço-te a minha boca centrífuga.

aí poderás abrigar-te da crueldade

da terrífica lucidez dos sentimentos

 

ou o céu, se preferires, ainda sujo

da boca, mas tão livre de impostos

 

 

 

lavandería

 

déjame coger tu corazón.

no tengas miedo, sé lo que hago.

tengo las uñas cortadas, verás como

ni siquiera te araño la sangre.

 

lo someteré a la máquina, tu

corazón. lo lavaré a 180 grados.

todo lo que hayas amado

se convertirá en ángulos rectos.

 

deja que te seque el corazón como

si cambiara la bombilla a la primavera.

con la máquina lavacorazones

suprimiré las manchas, la pelusa

 

mientras esperas a tu corazón

te ofrezco mi boca centrífuga.

ahí podrás refugiarte de la crueldad

de la terrorífica lucidez de los sentimientos

 

o el cielo, si lo prefieres, todavía sucio

de la boca, pero tan libre de impuestos.

 

Poema de Renato Filipe Cardoso. 

Traducción de Leonor López de Carrión.

En breve publicado por Ediciones Liliputienses.

     www.edicionesliliputienses.com